segunda-feira, 7 de março de 2022

Deputado Leônidas publica crônica do irmão Vicente Cristino

 


Crônica da lavra do meu irmão primogênito, Vicente Cristino, relatando a nossa chegada, vinda de Coreaú, a Sobral. Eu tinha sete meses. Belo texto.

“Quando cheguei a Sobral, no dia 02 de janeiro de 1958, fui recebido pelo estrepitoso apito da Fábrica de Tecidos, plantada a cem metros da minha nova morada.

Os apitos da Fábrica de Tecidos.

A vida calma de Sobral, nos anos cinquenta, era de fazer inveja aos hoje habitantes das comunidades rurais. As pessoas começavam as atividades com o nascer do Sol e ao cair da tarde já estavam em seus lares. Às cinco horas da manhã, um longo apito da fábrica de tecidos acordava a população. Depois do apito despertador, outros apitos a cada duas horas eram o relógio da cidade. Relógios individuais eram caros, raros e supérfluos.

“Meu Deus! Já deu o apito das nove e o feijão ainda tá cru! Esta lenha molhada...”

O apito da fábrica era ouvido por todos. Não havia os poluentes sonoros de hoje.

Os poucos automóveis não perturbavam a tranquilidade das ruas. Casos isolados de jovens buzinando, para chamar a atenção das garotas e exibir o carrão do pai, faziam lembrar os versos de Noel Rosa: ”você que atende ao apito de uma chaminé de barro, por que não atende ao grito tão aflito da buzina do meu carro”?

Havia um silencioso tráfego de carroças e parelhas de jumentos, que com suas pequenas pipas faziam o abastecimento d’água .

O centro da cidade era composto pelos quarteirões: entre Rua da Aurora- Cel. José Sabóia e Praça da Meruoca- Rua Senador Paula.

Os bares Cascatinha e Antártica, situados na Praça Cinco de Julho, eram equipados com vitrolas que tocavam Nelson Gonçalves, Luis Gonzaga e Anísio Silva em volume compatível com o conforto auditivo dos transeuntes.

A Rádio Iracema de Sobral transmitia às 21h30min o “Jornal Sonoro H 22” que trazia as notícias do Brasil e do mundo. A voz compassada e emocionada de José Maria Soares, lendo os jornais da capital e a crônica “Spotlight” de Ribeiro Ramos, tornava obrigatória a audiência do noticioso.

Às dez horas da noite, a população estava recolhida, as redes com mosquiteiros permitiam suportar as nuvens de muriçoca que infestavam a Princesa do Norte.

A fábrica de tecidos dava um longo apito encerrando o dia”.

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