quinta-feira, 30 de outubro de 2014

SENADOR EUNÍCIO OLIVEIRA SURGE DEPOIS DA ELEIÇÃO COMO OPOSIÇÃO NO CEARÁ

Candidato derrotado ao governo do Ceará, o senador Eunício Oliveira (PMDB) repete um colega de partido e diz: "O PT é uma harpa paraguaia. Porque a harpa normal se toca para frente e para trás. A harpa paraguaia só se toca para dentro".

O líder do PMDB foi derrotado no segundo turno para o petista Camilo Santana, 46, aliado dos irmãos Cid e Ciro Gomes (Pros).

Ele ataca a legislação eleitoral, que permite que um aliado de Dilma, ele, no caso, tenha como adversário na eleição estadual um candidato do partido da presidente.

"Eu sou aliado a Dilma no plano nacional e tem um candidato do partido contra mim no plano estadual. Não vê como isso é estranho? O Supremo errou quando cortou a verticalização das eleições. Isso está errado. A Suprema Corte também erra."

 A seguir, trechos de sua entrevista à Folha.

Folha - Henrique Eduardo Alves, do PMDB e presidente da Câmara, reclamou do apoio que o PT deu ao adversário dele, Robinson Faria, que acabou eleito governador no Rio Grande do Norte. Como o sr. avalia a participação do PT nacional no Ceará? Foi cumprido o prometido?
Eunício Oliveira -
 A eleição passou. Eu aceito as coisas com naturalidade. Tive quase 2 milhões e 100 mil votos do povo cearense e é isso que eu quero levar dessa eleição. Em relação à participação nacional do PT prefiro guardar minha avaliação para mim mesmo. Não quero externar nenhum juízo de valor. Faço minha autocrítica e espero que eles façam também a deles.

Ficou algum trauma das urnas que pode azedar a relação dos dois partidos no plano nacional?
Sinceramente, mágoa nenhuma. Mas é como disse hoje meu amigo Luiz Henrique [senador do PMDB-SC]. O PT é uma harpa paraguaia. Porque a harpa normal se toca para frente e para trás. A harpa paraguaia só se toca para dentro.

E o senhor concorda com essa avaliação?
Você tem alguma dúvida disso (risos)?

Mas o PT não enviou nem a Dilma nem o Lula para pedir votos para o adversário do senhor. Eles não teriam cumprido parte do acordo?
Eu sou aliado a Dilma no plano nacional e tem um candidato do partido contra mim no plano estadual. Não vê como isso é estranho? O Supremo errou quando cortou a verticalização das eleições. Isso está errado. A Suprema Corte também erra. É feito por homens e mulheres. Nacionalmente eu pedia votos para o 13, mas, no Estado, não podia pedir para o 13, porque meu adversário é do PT. Essa legislação está equivocada. Precisa de uma reforma política já.

Em seu primeiro discurso após eleita, a presidente Dilma Rousseff (PT) sinalizou a necessidade de uma reforma política e o desejo de realizar um plebiscito, mas alguns líderes do seu partido já mostraram resistência em relação a este segundo ponto. O sr. vê viabilidade na realização do plebiscito?
Eu sou líder do PMDB do Senado e lhe digo: isso não passa dessa forma. O Congresso vai derrubar se vier dessa forma. Nós entendemos que tem que existir um referendo, porque a população tem que ser ouvida. O Congresso aprova uma reforma política, e a população vota se quer ou não. O plebiscito não tem sentido. Acabamos de passar por uma eleição. Vamos passar por outra para aprovar uma Constituinte? Não existe isso. Na democracia deve-se respeito ao Parlamento como aos outros poderes. Se vier dessa forma eu encaminho contra.

E em relação àqueles peemedebistas que não fecharam apoio com Dilma? Ainda existe o racha no partido? Fala-se da eleição de Eduardo Cunha, líder do bloco dos dissidentes, para a Câmara em 2015...
Disputa de mesa é normal. O PMDB não pode se candidatar? Por que não? O PT não disputou com o PMDB no Rio, sendo que o Pezão disputava a reeleição? Então pode existir disputas internas, mas não quando a preferência é do PT? É de novo a história da harpa.

Fechado o segundo turno, o PMDB foi o partido com mais governadores eleitos nos Estados, sete, ao todo. Isso força uma maior proximidade da presidente com a bancada peemedebista? Aumentará a composição de nomes do partido no ministério?

O PMDB aumentou sua força no país. Essa questão de ministério para mim é secundária. Por mim o PMDB nem aceitava nenhum ministério nesse governo. Nosso apoio não foi por cargo foi em nome de um projeto. E somos hoje o maior partido do Brasil. Sai eleição e entra eleição e o PMDB sempre sai mais forte. Quem não tem tamanho desqualifica o PMDB, mas a população vai lá e mostra que quer o PMDB novamente. É sempre assim. Em relação ao governo Dilma nós não somos agregados. Nós somos o governo. Meu presidente [do partido] é o vice-presidente da República, o Michel Temer. Nós estamos fortalecidos em nome de um projeto maior.

Com essa capilaridade, qual é o projeto do PMDB para 2018?
Eu defendo candidatura própria para presidente. Eu e uma ala importante do partido defendemos isso. O PMDB não precisa ficar à sombra de ninguém. É o maior partido do Brasil.

O sr. defende então o rompimento com o PT para 2018?
Eu defendo que o PMDB lance candidatura própria. Cada partido é livre para seguir seu rumo. Se eles quiserem caminhar em outra posição que fiquem à vontade.

O governador Cid Gomes tem sido cotado para ser ministro de Dilma nesse segundo mandato. O que o sr. acha disso?
Primeiro eu não tenho poder de vetar uma indicação da presidente. Segundo, mesmo que tivesse, não agiria dessa forma, pois qualquer coisa que seja favorável ao meu Estado eu aprovo. Terceiro porque não faço política com ódio ou ressentimento.

Na véspera da eleição estadual o sr. chegou a declarar que o governador usou a máquina do governo para 'esmagar' sua candidatura. O que especificamente foi feito na disputa?
Quem andou em Fortaleza no dia das eleições viu nas ruas mais um milhão de camisas amarelas [cor do adversário Camilo Santana] sendo distribuídas com dinheiro dentro, algo em torno de R$ 70. Na cidade de Quiterianópolis ficamos sabendo que o governo deu feriado nas escolas, prometeu adutora e que ia asfaltar as ruas. Isso na véspera da eleição. Aí, eu que nas pesquisas tinha lá 80% do eleitorado passei a ter 20%. Inverteu o processo. Isso é uso da máquina ou bênção de Deus?

O sr. também reclamou nestas eleições dos ataques que recebeu do atual secretário de Saúde do Ceará Ciro Gomes...
Ele é um desequilibrado. Estava desesperado achando que ia perder o governo, porque ele acha que aquilo é dele e ninguém pode tomar. Levantei 19 processos contra ele, por injúria, difamação e danos morais. Quando receber o dinheiro dele já sinalizei que vou doar tudo para uma instituição que cuida de drogados.

O novo governador Camilo Santana assume com ampla maioria na Assembleia Legislativa. Qual será a posição do sr. a partir de agora no Estado? Muito tem se falado do desejo do sr. de organizar a oposição no Ceará...
O PMDB é a partir de agora oposição no Ceará. Faremos uma oposição propositiva, e não raivosa. Oposição assina CPI, faz o que precisa ser feito. Aquele parlamentar que for cooptado e quiser fazer parte do governo nós vamos brigar para que ele perca seu mandato na Justiça. A legislação eleitoral exige fidelidade partidária e nós vamos fazer valer isso. Vamos fiscalizar o governo.

Embora tenha perdido em 149 municípios do Ceará, o sr. conseguiu vencer em Fortaleza, que é administrada por um prefeito ligado a Cid Gomes. Isso credencia o PMDB para concorrer daqui a dois anos?
O PMDB vai lançar candidatura em Fortaleza e na maioria dos municípios cearenses. Eu vou coordenar isso particularmente em 2016. Saímos extremamente fortalecidos das urnas. Tivemos 57% dos votos na capital. Ganhamos em todas as cidades da região metropolitana, menos duas. Ou seja, estamos fortes.

* Com informações da Folha de S. Paulo

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