sábado, 24 de agosto de 2013

REVISTA VEJA: Cofres vazios e caviar no prato

(Do blog do Roberto Moreira/DN) - “Com a má fase da economia brasileira, o choramingo habitual dos Estados por falta de verbas aumentou tanto que a última reunião dos secretários estaduais de Fazenda “parecia uma pororoca do Rio Amazonas”, nas palavras do representante do Paraná, Luiz Carlos Hauly (PSDB). O aperto é tamanho que, para muitos governantes, dar calotes em fornecedores ou ter o fornecimento de luz cortado nas repartições públicas por falta de pagamento deixou de ser constrangimento para virar prática incontornável. Mas pelo menos em um estado brasileiro esse chororô ainda não chegou. No Ceará do governador Cid Gomes (PSB) a vida é só alegria e abundância – ao menos no seus domínios.

Chamado pela oposição de “Maria Antonieta de Sobral”, o governador é conhecido por seu apreço pelas coisas boas da vida. No começo deste mês, seu governo assinou um contrato de 3,4 milhões de reais com uma empresa encarregada de servir e decorar os eventos do Palácio da Abolição e da residência oficial do governador. No cardápio combinado, constavam pratos à base de caviar, lagosta e escargot, conforme revelou da tribuna da Assembleia Legislativa o deputado Heitor Férrer, do PDT. Pego com a faca e o molusco na mão, Cid Gomes ficou irritado.

Disse que nunca comeu “esse negócio de caviar” e que, diante da grita geral iria ceder à“demagogia” e “mandar retirar todas as coisas exóticas” do cardápio. “Tudo que tiver nome francês, inglês, russo vai sair. Vai ficar só coisa com nome em português: arroz, feijão, carne, frango e peixe” (tanto desprendimento, porém, não foi suficiente para baixar o preço do contrato – o valor permanece inalterado).

Não foi a primeira vez que Cid Gomes foi acusado de excesso de generosidade com dinheiro alheio. Em 2008, o governador passou dez dias na Europa, acompanhado da mulher e da sogra, em um jatinho fretado que custou 388 mil e 500 reais aos cofres públicos. De 2007 a janeiro de 2013, o estado do Ceará gastou 86 milhões de reais para contratar bandas e cantores para animar eventos. Ivete Sangalo, por exemplo, levou 650 000 reais para cantar em Sobral na inauguração de um hospital – cuja fachada ruiu um mês mais tarde.
O cachê recorde foi para o tenor espanhol Plácido Domingo, que recebeu 3 milhões de reais para se apresentar em Fortaleza. O projeto mais grandioso do governador, no entanto, a construção do maior aquário do mundo, orçada em 358 milhões de reais, está sendo questionado pelo Ministério Público. O MP suspeita de ilegalidade na contratação da empresa encarregada da obra. Cid quer circo, e não gosta de miséria”.


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