domingo, 1 de fevereiro de 2015

LEIA NA ÍNTEGRA A MATÉRIA DA REVISTA ÉPOCA QUE FALA SOBRE "A EMPRESA DO MINISTRO DA EDUCAÇÃO RECEBEU TRATAMENTO PRIVILEGIADO DO BANCO DO NORDESTE"

Em 18 de novembro de 2013, o então governador do Ceará e atual ministro da Educação Cid Gomes Fortaleza rumo a Sobral para participar da inauguração da segunda agência do Banco do Nordeste, BNB, em sua cidade natal. No palanque da foto acima, improvisado em frente à nova agência, Cid elogiou a política de juros baixos do banco. “Se a gente não tiver crédito e um crédito bom, um crédito barato, um crédito que estimule quem está começando, de nada vai adiantar o saber fazer ou a boa vontade. É aí que entra o Banco do Nordeste. É aí que entra essa segunda nova agência aqui em Sobral”, disse. Tão logo terminou a cerimônia, Cid comentou com alguns dirigentes do banco que ele poderia largar a política depois de deixar o governo estadual. Disse que queria se tornar um empreendedor. Precisava pensar no futuro. Sem delongas, Cid correu ao guichê da gerente do banco recém-inaugurado. Queria informações sobre linhas de crédito, taxas de juros e prazo de pagamento de empréstimos – e confirmar se tudo o que falara no discurso minutos antes era verdade mesmo. Começava ali a aventura de Cid rumo ao empreendedorismo.
Dois meses depois, Cid pediu ao BNB mais informações sobre as condições de empréstimos. Sem pestanejar, no dia 21 de janeiro, a gerente do banco em Sobral, a mesma que atendeu Cid solicitamente na cerimônia de inauguração da agência, transmitiu por e-mail ao superintendente do banco no Ceará, João Robério Messias, informações sobre um pedido de financiamento para a construção de galpões numa região remota de Sobral. A gerente cobrava celeridade do chefe para dar pronta resposta ao cliente. Messias logo mostrou a eficiência do BNB. No dia seguinte, encaminhou as informações do pedido a dois diretores do banco. Num e-mail, Messias fez questão de frisar: “Esse pleito é de empresa no nome do governador Cid Gomes, que iniciou negociação esta semana” (leia o e-mail). Não precisava dizer mais nada. O BNB, banco do governo federal voltado para financiar o desenvolvimento do Nordeste, estava pronto para financiar a empresa do governador Cid.
O governador ficou animado. Não estava fácil empreender em Sobral. Cid finalmente arranjara uma serventia para um terreno que comprara em 1996 – e estava abandonado. Em 2013, já mandara asfaltar uma estrada que dava acesso ao lote. Nada de buracos e curvas acentuadas. A estrada ficou um tapete, bem sinalizada. O dinheiro para a obra? Veio do governo do Estado, então administrado por Cid Gomes. Foram quase R$ 2 milhões para pavimentar os 2 quilômetros da estrada.
Tudo caminhava bem, mas Cid esbarrou num problema que pôs em risco seu sucesso no mundo dos negócios. Não havia previsão no zoneamento de Sobral para que seu terreno pudesse abrigar o empreendimento pretendido. Cid, então, teve de apelar ao Conselho Municipal do Plano Diretor, ligado à administração de Veveu Arruda, do PT, prefeito de Sobral e seu antigo aliado. Veveu, marido da atual vice-governadora, também comparecera à festa de inauguração da segunda agência de Sobral. A despeito da contestação de um integrante do conselho, que questionou a legalidade do projeto de Cid ser discutido por aquele órgão, o obstáculo do governador foi superado rapidamente. Poucos dias depois, Cid recebeu a licença para tocar o empreendimento.

No final de maio do ano passado, superadas as burocracias, Cid se tornou sócio do engenheiro Ricardo Sérgio Farias – amigo antigo dos tempos do colégio primário – na empresa Corte Oito Gestão e Empreendimento. No mês seguinte, a Corte Oito pediu oficialmente o empréstimo ao BNB. Em agosto, veio a boa notícia para Cid e seu sócio. O BNB aprovara um pedido de R$ 1,3 milhão para que a Corte Oito erguesse os galpões e os alugasse. E o melhor: juros de 6,5% ao ano, abaixo do valor de mercado – como é normal num banco de fomento. E com a primeira parcela de pagamento da dívida só em março de 2016. As parcelas também são a perder de vista. Se tudo correr bem, Cid só acabará de pagar o empréstimo em 2023. ÉPOCA perguntou ao presidente do BNB, Nelson de Souza, se ele considerava normal um governador pedir dinheiro emprestado a um banco público. Ele titubeou e disse: “Prefiro não responder a essa questão... Mas não é proibido”. O superintendente do BNB no Ceará, João Robério Messias, que estava na festa de inauguração da segunda agência em Sobral, é mais cordato com políticos. “Como se trata de uma operação do governador do Estado, eu acompanhei de perto até a sua concretização. Ele não teve privilégio. Eu acompanho todas as operações do banco. Mas você há de convir da representatividade da pessoa. É uma empresa do governador do Estado”, disse. “Não existe nenhum problema. É relacionamento.”

Chegara o momento de a empresa de Cid receber o dinheiro, aplicar no projeto e lucrar com o retorno do investimento. No caso, com o aluguel do galpão. Cid e seu sócio já tinham acertado o aluguel meses antes, em janeiro de 2014, para a Cervejaria Petrópolis, fabricante da cerveja Itaipava. A despeito de o terreno de Cid ficar numa área isolada e pouco urbanizada, a Itaipava preferiu alugar seu galpão a se instalar no distrito industrial, localidade atendida por infraestrutura de qualidade, onde outras grandes empresas ficam. A Itaipava ainda topou pagar R$ 36 mil todos os meses para a empresa de Cid. 

Há cerca de 60 dias, a Itaipava assumiu o galpão e o pintou com as cores da cervejaria. Só não começou ainda a pagar o aluguel por reclamar de alguns problemas na obra, principalmente no acabamento.

Texto e reportagem Murilo Ramos


Um comentário:

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