quarta-feira, 19 de agosto de 2015

DR. AZEVEDO ESCREVE: PATRIMÔNIO HISTÓRICO PÓS-MODERNO?

  A pavimentação urbana com pedras graníticas oferece inúmeras vantagens se comparadas às outras alternativas existentes... Senão vejamos:
- Utilização de matéria prima natural abundante em muitos solos (como o - Aproveitamento de mão de obra  (cortadores de pedra, transportadores de carga, assentadores) local, não necessariamente superespecializada - Praticidade, agilidade e economia na sua manutenção e nos reparos de eventuais “defeitos”;
- Capilaridade/porosidade relativa da pedra, oportunizando infiltração-hidratação do subsolo e dos lençóis freáticos, e portanto melhorando o clima e a cultura da arborização das vias urbanas.
- Etc, etc, etc,... Além da, máxime quando se trata de investimento do poder público – leia-se erário, que nunca produziu dinheiro, tão somente administra a nossa -, economia real que pode ser feita, oportunizando outros investimentos tão necessários sem comprometer os cofres públicos.
Não há motivos, mesmo que não sejam técnicos, para contestar as vantagens dos outros tipos de pavimentação urbana – malha asfáltica, de concreto ou as modernas pedras intertravadas,  das mais variadas formas -. É claro que elas sempre podem ser opção quando se faz necessário repensar a geografia e a estética urbana das praças, ruas e avenidas das cidades. No caso de Sobral, no entanto, entendo como equivocada, tanto sob o aspecto econômico e principalmente sob o aspecto cultural, a decisão do executivo  revestir o solo do nosso sítio histórico tombado pelo IPHAN com pedras  intertravadas pré-fabricadas.

Como informação extra, para efeito comparativo: o entorno da Capela Sistina em Roma  -  construída entre  1508 e 1512,  tem a mesma pavimentação com calçamento  desde 20 anos após sua conclusão; o coliseu de Roma também é contornado com pavimentação de calçamento;  a praça vermelha em Moscou - pavimento em pedra feito provavelmente há 1200 anos -;  o Arco do Triunfo/Champs Elysées em Paris, calçamento com mais de 700 anos;  as ladeiras da cidade de Ouro Preto - calçamento feito por volta do ano de 1720; e a praça central em Ouro Preto, com calçamento tombado no centro histórico.
Durante a primeira gestão do Prefeito Cid Ferreira Gomes ele iniciou uma prática político-administrativa muito interessante: reuniões colegiadas com representantes das comunidades e das entidades representativas da sociedade, com direito de voz para opinar sobre a aplicação do orçamento  com sensatez, em benefício real o maior possível para a cidade  e para os cidadãos. Participei de uma das poucas que houve, porque infelizmente a (boa) ideia não prosperou; na (reunião) que estive presente, quando se discutia o “furor” asfáltico que a cidade começava a sofrer, eu questionei ao engenheiro civil Cid, mais que ao prefeito, sobre o impacto ambiental e climático – numa Sobral de 40 graus à sombra em algumas épocas do ano - daquela decisão da administração dele; fiquei sem resposta, técnica ou político/administrativa.
E até hoje não consegui compreender a necessidade de se asfaltar cada rua, viela ou travessa da nossa cidade; das pistas de rolamento às coxias, sufocando de morte inclusive as poucas árvores existentes em cada uma delas. Alguém mais deve ter notado que a sensação climática – leia-se temperatura média – por aqui só fez foi aumentar.  E mais ainda quando já na gestão segunda do ex-prefeito Leônidas Cristino, novamente sem consulta prévia à população, e ao que parece sem parecer da AMMA, ao menos 70 árvores já com copas frondosas foram literalmente arrancadas pela raiz para dar passagem aos trilhos do VLT.
Desde lá – o furor asfáltico – até cá (as árvores /trilhos do VLT), entre os sobralenses mais céticos  mas nem por isso menos preocupados com a qualidade de vida de cada um e de todos; e com as responsabilidades e a transparência que devem ser “cláusula pétrea” de toda administração, se implantou uma dúvida que não tem querido calar: há algum interesse maior que não o bem público – que é de todos- e a saúde do erário – dinheiro de todos – orientando essas decisões que, repito, me parecem muito equivocadas?

Concluo portanto, aceitando qualquer ostentação: técnica, administrativa, financeira ou política, conclamando a quem de direito me convencer sobre as vantagens para o patrimônio histórico-cultural de Sobral e para o seu erário, da  repavimentação do seu sítio histórico com pedras intertravadas  e não com pedras de calçamento. Aliás, segundo um amigo meu, conhecedor profundo da nossa história e do seu patrimônio cultural, se a decisão tivesse sido pelas pedras de calçamento, nem repavimentação seria necessária, porque elas já estavam lá, recobertas pelo manto asfáltico; aquele do furor que se iniciou anos atrás.

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