Os irmãos Joesley e Wesley Batista também prometem dar mais detalhes
sobre o recebimento de supostas propinas disfarçadas de doações eleitorais para
o ex-governador do Ceará Cid Gomes.
Quase um ano após a Operação Patmos, que abalou o mundo político a partir
das delações premiadas de executivos do Grupo J&F, Joesley Batista voltou à
carga, com novos documentos que atingem integrantes de todo o espectro
ideológico, com detalhes sobre os pagamentos que fez a dezenas de partidos ao
longo dos anos, boa parte deles por caixa dois.
Ao todo, Joesley está dando mais detalhes sobre 32 anexos complementares
apresentados no ano passado, que reforçam as acusações de sua delação inicial,
homologada em maio. Além disso, está trazendo novos documentos sobre os acertos
criminosos com vários políticos e seus operadores financeiros. As novas
revelações podem trazer mais complicações aos políticos já investigados no
Supremo Tribunal Federal.
Os irmãos Joesley e Wesley Batista também prometem dar mais detalhes
sobre o recebimento de supostas propinas disfarçadas de doações eleitorais para
o ex-governador do Ceará Cid Gomes. Desde que o caso veio à tona, ainda na fase
original do acordo de delação com a JBS, Cid disse que as acusações eram
mentirosas e anunciou ação judicial contra os delatores.
Somente neste ano, Joesley prestou oito depoimentos à Polícia Federal em
sete investigações, uma média de dois por mês, e já tem data marcada para novos
depoimentos em maio nas investigações da Justiça do Mato Grosso sobre esquemas
de corrupção durante a gestão do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), entre
2010 e 2014. Neste caso, Joesley irá depor à Polícia Civil do MT para falar
sobre as reduções de impostos que suas empresas conseguiram no estado depois de
apoiar a campanha de Barbosa ao governo, em 2010. Silval Barbosa também aderiu
à delação premiada e confirmou recebimento de doações irregulares da JBS.
DEPOIMENTOS EM SÉRIE
Joesley também já depôs nas investigações da Operação Greenfield, que
apura fraudes em fundos de pensão; da Operação Bullish, que investiga fraudes
nos aportes do BNDES às empresas dos irmãos Batista; no inquérito dos Portos,
que apura suspeitas de corrupção envolvendo o presidente Michel Temer (PMDB); e
também no inquérito que investiga o ministro Gilberto Kassab (PSD) por suspeita
de receber R$ 350 mil mensais dos irmãos Batista ao longo de seis anos por meio
de uma empresa de consultoria.
Além disso, Joesley depôs no dia 12 de abril, a pedido da PGR, em uma
apuração sigilosa envolvendo o deputado federal João Carlos Bacelar (PR-BA), e
no dia 27 de fevereiro na investigação sobre o ex-procurador da República
Marcelo Miller, suspeito de ter feito jogo duplo e orientado a colaboração do
Grupo JBS enquanto estava no Ministério Público Federal.
O depoimento mais recente, prestado na quinta-feira da semana passada,
foi sobre o ex-presidente do PSDB, senador Aécio Neves. Joesley foi ouvido,
também a pedido da PGR, no âmbito de um inquérito aberto contra o tucano no
STF, em decorrência de sua colaboração premiada, e falou aos investigadores da
PF e da procuradoria sobre as acusações contra o ex-presidente do PSDB. Ele
reafirmou que seu grupo repassou R$ 110 milhões para Aécio e seus aliados em
2014, na expectativa de uma contrapartida do parlamentar, e ainda entregou
notas fiscais de pagamentos à rádio Arco Íris, pertencente à família de Aécio,
que teria sido usada para repassar uma “mesada” de R$ 50 mil ao tucano. O
empresário também entregou áudios de conversas do ex-diretor da J&F Ricardo
Saud com Paulo Vasconcelos, marqueteiro de Aécio nas eleições de 2014 e que
teria emitido notas frias para a campanha dele naquele ano.
Os anexos dos 32 depoimentos complementares de Joesley e os demais
documentos para corroborar as acusações foram apresentados à PGR no dia 31 de
agosto do ano passado, dentro do prazo dado pelo acordo de delação para que os
colaboradores apresentassem novos elementos para ajudar nas investigações.
Agora, ele vem depondo e detalhando as acusações quando é intimado pela PF ou
pela PGR para falar.
Seu irmão, Wesley Batista, elaborou 12 novos anexos que também foram
apresentados ano passado à PGR. Desde então, ele já prestou três depoimentos à
PF. Os dois chegaram a ser presos em setembro, por suspeita de terem usado
informação privilegiada para se beneficiar do impacto de seus acordos de
colaboração premiada e faturar com a venda de dólares por meio de suas
empresas. No mesmo período, a Procuradoria-Geral da República pediu a revogação
dos benefícios do acordo firmado com Joesley e o ex-diretor do grupo
empresarial Ricardo Saud após virem à tona os áudios das conversas gravadas
acidentalmente entre Joesley e o ex-diretor que indicam a atuação de Miller
para orientar os delatores.
Com informações, exclusivas O Globo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário